quarta-feira, julho 13

O bebê de Lucimary

A coisa foi tão estranha que eu achei que merece registro.


Estava participando de um concurso de fantasias de carnaval. O nome da minha fantasia era Vênus Dourada Grávida. Era muito bonita fantasia, eu toda pintada de dourado, com um manto comprido em cima de uma pedestal, igual a Vênus de Milo acenando tchau. E uma barriga dourada enorrrrrme. E sem mais nem menos, comecei a sentir dores. A criatura queria nascer! “Mas é só uma fantasia!” penso apavorada. Pois é, mas ta nascendo minha filha! Corre!

Saí correndo para casa de meu pai para que ele me levasse até a maternidade. Coisa estranha por si só se levarmos em conta que eu moro em Santa Catarina e meu pai em São Paulo. Ao chegar ainda levo uma puta bronca da minha mãe por não ter comprado uma só peça de enxoval para o bebe. “Não tem pronta nem a bolsa da maternidade sua relaxada!” “Mas mãe, se eu nem estava grávida até 10 minutos atrás!” Não adianta, mães são terríveis quando acham que tem razão. Cadela largada foi o adjetivo mais bonito que ela usou. È, minha família não tem muito pudor com xingamentos mesmo (veja o post abaixo sobre minha avó).

Enfim, todos no carro, vamos embora.

No caminho uma freira com hábito azul celeste começa a atravessar a rua bem devagarinho, com um sorriso bem sacana obrigando meu pai a frear. Não esqueçam que estava em trabalho de parto e portanto qualquer coisa me irritaria muito, principalmente uma freira de hábito azul celeste. A freira então levanta o hábito e mostra a bunda pra gente! Vê se pode! Não se fazem mais freiras como antigamente.

Na primeira maternidade onde paramos fomos informados de que a equipe médica de minha obstetra está disponível e me esperando, mas ela mesma não está, está em outra maternidade. Começo a gritar: “Eu disse que queria um homem! Eu falei! Agora vou ter que parir no telhado, puta merda!”

Uma das coisas que mais me incomodam é o tamanho descomunal da minha barriga que cai e se estica até o limite de resistência da pele ficando transparente. Dá pra ver o bebe lá dentro, encolhido e sujo, todo roxo.

Ao chegar na outra maternidade, obviamente não havia vagas e tenho que ser atendida no saguão. Minha médica loura e francesa (por que diabos francesa?) sem equipe (que está na outra maternidade) grita: “Parto de alto risco!” e coloca um balão de gás vermelho amarrado no meu pescoço. As pessoas em volta acomodam-se a minha volta e dãos as mãos rezando comoe o balão vermelho fosse a senha para que se levantassem.

Minhamédica francesa então começa a falar: “Rrespirre, rrelaxe...” até que realmente consigo relaxar a ponto da dor ir embora. Assim que fecho os olhos, ouço gritos de horror a minha volta: o bebê nasceu! E nasceu por sua própria conta e risco tomando toda a responsabilidade do parto para si. Isso mesmo. O danado está com uma tesoura preta nas mãos e com ela cortou minha barriga de dentro para fora fazendo ele mesmo sua própria cesariana! Ele já está cortando o cordão (o cordão tem um textura estranha, esponjosa cheia de farpas e desmancha-se em contato com os dedos) quando delicadamente tiro a tesoura das suas mãos com medo de que ele se machuque. Olho para ele horrorizada! Ele abre os olhos e estende os braços para mim. A única coisa que consigo pensar é que realmente deve ser meu filho. Para ser assim tão metido a auto-suficiente, só pode!

Estou com profundas e românticas olheiras azuladas. A idéia de dormir de novo e sonhar novamente com aquele bebê dos X File estendendo os braços para mim me aterrorizaram a ponto de passar o resto da noite em claro lendo Playboy.

E por favor, psicólogos de plantão, me ajudem! Não quero sonhar com o bebê de Rosemary de novo!

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