domingo, novembro 20

Sono sem sonhos


(Alfredo Zalce - "Gato" - 1990 lápis)

Depois dormir até o fim. Medo de que? me pergunto agora que fodeu tudo. Só água salgada. Nada que um Gatorade maracujá não resolva. De mais a mais, pratos foram feitos para quebrar, caso contrário seriam de papel. Sabe que dá até um barato? Fechar mais uma porta. “To descendo, já volto.” “Mas olha o temporal!” “Exatamente...”. Depois disso, fazer poças de água por todo o carpete da sala e gritar pro vizinho que banho de chuva é a coisa mais gostosa do mundo. E depois? Nada a resolver, nenhuma decisão a tomar. A resposta deve estar por aí boboleteando em algum cômodo da casa. Uma hora ela vai voluntariamente para o fundo da rede. Tomar banho e deitar molhada na cama. Abrir à unhadas a própria alma dói só na primeira cravada. Depois é prazer, deliciar-se com o jorro convulsivo e confuso de sentimentos. A palavra exata é: embriagante. Pense você. Preocupe-se você. Sinta-se culpado você! Ficar muito bêbada na frente da família reunida sem constrangimentos (meus e não dos familiares, que fique claro). Duas xícaras de café pelo chão de caquinhos redondos. As crianças que coloquem seus sapatos e as tias velhas que peguem suas vassouras atrás da porta. No fim, gozar de boa reputação serve para alguma coisa. È que eu falo caralho pra caralho tia! Ando com a boca cheia de caralhos! E a irmã gostozinha? A sainha de pano molinho jogando pra lá e pra cá, toin, toin, toin, toin... Ca-ra-lho! Casa. Verificar a redinha, quem sabe. Dormir até o fim. Até o fim dos tempos!

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