Mundo animal

Se eu levantar o rosto só um pouquinho, e ter a coragem de sustentar o olhar gélido e o bafo glacial, sei que vou ter a revelação. Uma luz divina descerá do teto em minha direção, e então serei abduzida ao céu, conduzida por George-Clooneys e Antônio-Bandeiras alados. Mas não antes de virar uma estátua de pedra. E esquecer minha heterosexualidade.

Indo para o alto e avante, sei que certamente passarei pelas borboletas azuis que vivem no mundo superior. O mundo superior e algo assim, como vou dizer? Aff! Superior! E sendo eu um bicho dos mais insignificantes e serviçais neste mundo superior, serei expulsa de lá em desgraça com a marca da purpurina azul na testa para servir de expiação aos pecados do mundo. Aleluia, amén!

Ficando na ponta dos pés, posso ver lá longe na linha do horizonte, dois graciosos avestruzes conversando com suas cabeças devidamente metidas na terra. Um deles, louro, olhos azuis, corpo atlético tenta convencer o outro de que descobriu todas as chaves do universo (de seu umbigo). Perda de tempo. O outro avestruz, baixinho e sorridente, já está previamente convencido de qualquer coisa desde que isso lhe garanta a ração diária de caviar. Mas em todo caso, mantem um olho sempre para fora do buraco. Avestruz é bicho previdente...

E então? Vou continuar de orelhinhas murchas e rabo baixo. Mas com a pontinha de meu casco fendido no batente da porta que to ficando velha e não besta.

Enquanto isso, a boiada vai passando porteira afora, que beleza...