Boa noite!

Sinto um leve pisar de meias no assoalho da sala. Sentir é a palavra exata já que os passos são praticamente inaudíveis. Soergo-me na cama ouvindo com todos os poros do corpo, mas o som não se repete. Por fim concluo que a madeira velha da casa está estalando seus ossos cansados e fecho os olhos.

Mas a casa toda tem piso cerâmico!

Acendo a luz depressa e lá está ele sentado aos pés da minha cama sorrindo sereno para mim:

- Não me canso de olhar você dormindo.
- Me assustou.
- Mentira. Você está feliz em me ver.
- Sim, é verdade... Você vai ficar?
- Você sabe que não. Mas vou te olhar por um tempo.
- E depois?
- E depois será como sempre foi.
- Não há como mudar?
- Oh, sim, há. Mas você bem sabe que não consegue.
- É... Posso deitar no seu colo?

Em resposta ele abre os braços em minha direção. Que seja. Um dia será a última visita. Até lá, descanso minha cabeça cheia em suas pernas.

- O que foi?
- Nada não, dorme....
- Você acendeu a luz, está se sentindo bem?
- Estou. Apenas perdi o sono. Vou fazer um chá. Durma tranqüilo.

Boa noite!

- Boa noite...
- Boa noite.