terça-feira, julho 3

Novo emprego

Primeiro dia. Fui subindo a escada de incêndio de má vontade (Maldito elevador quebrado justo no meu primeiro dia! Mau presságio...). O vento cortava. Quando cheguei no andar indicado no verso do cartão de visitas (PSM dentista - letras douradas sobre fundo preto e fosco; muito bom gosto) abri a porta e fui dar no meio de uma saleta minúscula e com pouca luz. A direita e a esquerda corredores muito compridos, ladeados de pequenos armários de metal numerados.

Escolhi o da direita de onde vinha um cheiro característico de salas de dentista. Fui andando na penumbra tateando a frente para não dar com a testa na porta de alguns armários que estavam abertas. Depois de caminhar assim meio as cegas por um tempo que parecia não acabar mais, cheguei na sala de espera do dentista e me instalei na escrivaninha. Eu sou a feliz e orgulhosa nova secretária do dentista :D

- Ah! A Senhora já chegou! Por favor, pode me ajudar? Temos muitos aviões para despachar hoje.

Segui o Drº Paulo Salim Maluf (PSM dentista, claro!) para dentro do consultório onde uma maca coberta de seringas fazia as vezes de cadeira de dentista. È claro que o negócio era só fachada. Na verdade o negócio do Drº Paulo, ao contrário do que todo mundo pensa, não é roubo e maracutaia (muito menos odontologia) e sim tráfico de heroína. Já em doses prontas para uso que o Drº Paulo sabe agregar valor ao produto, é ou não é?

Passei um tempão ali: era esquentar sobre a chama azul do bico de blauster (?), misturar água mineral Serra Azul Chalana (já tentei Perrie mas é muito caro, entende? me ensina com sabedoria Drº Maluf), encher seringa e empacotar. Pague 3 leve 2.

Mas Drº Maluf paga muito mal, apesar de não exigir muito asseio nem pontualidade. Tive que arranjar um bico meio período entregando marmitas pelo centro para inteirar o aluguel. Vida ta fácil não... Arrumei tudo na mochila do McDonalds e saí para as entregas. Vai marmita aí moço? Não? E uma heroinazinha? A primeira é de graça... A marmita, meu caro, a marmita.

Toquei a campainha do Vaticano e o guarda de short balonê e meia trifil fio 40 preta abriu a porta:

- Estalá?

Guarda português no Vaticano? A globalização, pensei. Ao menos não “estereto”. Se bem que debaixo desse pano todo não dá pra garantir...

- Dá pra chamar Sua Santidade? To com a marmita de chucrute ao molho bolonhesa que ele pediu.

Sua Santidade até que é simpático viu? Ao receber a marmita riu meio bobo e disse que estava tentando se adaptar à culinária local. Fiquei ali olhando ele comer enquanto roubava bocadinhos de incenso do bolso da estola dele. Ele fez que nem viu. Me falou da reforma que estavam fazendo e que estava acabando com sua paz. Outro dia tinha encontrado um pedreiro cagando no banheiro papal, vê se pode. Gente boa ele. O papa. Perguntou se tinha “sobremesa”. Disse que ia ver com Drº Paulo e passava lá no fim do dia. Mas que pra sua Santidade eu fazia baratinho...


Aos freudianos de plantão, um prato cheio. Quem se candidata?

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