quarta-feira, abril 23

A morte do sovina

Sem entender o que aconteceu levantei os olhos e olhei fixamente para a lâmpada pendurada acima de minha cabeça. De lá, uma aranha castanha e gorducha me encarou. O corredor largo se encheu de murmúrios e vultos que eu mal distinguia. As gôndolas anunciavam a oferta da semana como estava no folheto. Ouvi uma voz acima do murmúrio pedindo para que todos se afastassem. Obedeci. Comecei a andar sonâmbula entre as prateleiras. Os vidros coloridos e latas brilhantes pareciam se enfileirar até o infinito. Todas as mostardas escuras e pestos e os azeites espanhóis, todos as azeitonas recheadas e as anchovas e tremoços em conserva me sorriam coloridos nas prateleiras. As geléias vermelhas, os figos secos dourados e frutas em calda, as barras de chocolate amargo e as promessas de cassatas em biscoitos champanhe e creme de leite brotavam aos borbotões. Maravilhada por aquela cornucópia de guloseimas pensei: aquele não era o mesmo mercado de nossas compras semanais de café, pão, óleo e açúcar.


Um comentário:

Surtada disse...

Vc realmente anda mórbida! E que mercado é esse que coloca azeitonas e tremoços, junto com biscoitos, chocolates e cremes de leite????