sexta-feira, abril 25

Não ande pelo parque a noite...

Pus-me em pé e endireitei o corpo. Limpando distraidamente as mãos nas calças olhei para o lago sem ver nada com nitidez. Meu avô dizia em tom profético que as luzes da cidade iam acabar por cegar homens e meninos, bichos e suas crias e nos transformaríamos todos em ratos cegos incapazes de achar a cozinha no escuro. Certamente achar a cozinha no escuro era algo que ele considerava essencial para a sobrevivência da raça humana. Aos poucos minha vista foi se acostumando com a pouca luz. Uma brisa suave e fria passava pelo meu corpo carregando minha agitação para o lago a minha frente. A superfície escura começou a crispar-se de leve tomando para si a excitação que eu sentia há pouco. Pequenas ondas refletiam as lâmpadas da rua brilhando feito prata líquida. Achei aquilo tão bonito que prendi a respiração com medo de que minha presença ali pudesse alterar o curso do vento. A medida que as ondas caminhavam para o centro do lago tornavam-se cada vez mais largas e crespas até sumir nas sombras. Fiquei ali pensando em todos os segredos que aquele velho lago já guardara e quantos mais ele ainda poderia guardar.


2 comentários:

Alice disse...

Só com o André contando o fato inspirador desse exercício pra eu entender a morbidez que descreves.
Vocês estão fazendo com que eu me sinta cada vez mais burra.

:P

Gal disse...

Pelega, tô morrendo de saudades de ti! E da "minha" Germana que fica por aí...