Vez
em quando espichava um olho comprido até a sala. Já havia ensaboado e enxaguado
cada copo seis vezes. Perguntou-se se detergente dava barato. Espiou de novo. Porta
do quarto fechada. Dorzinha aguda na barriga. Ao menos haviam feito o favor de
colocar travesseiro e lençol para fora. Pegou a trouxa no chão e foi se ajeitar
no sofá.
Despertou
no susto. Sol alto. Porta do quarto aberta.
Ao
pisar no chão, algo espetou-lhe o pé. Uma raiva descabida para o acontecido. Caiu
no chão decidida a picar o tapete com os dentes! Deu de cara com um par de
óculos. Esmigalhados. Congelou. Tocou os cacos no chão com a ponta dos dedos. Um
vago tremor pelo corpo. Finalmente ela aparece vinda do quintal, cabelos recém-lavados.
Levanta-se de um salto.
-
E aí?
-
O dinheiro táli no pote.
-
Então...
-
Então nada, ué. Não falei?
-
Mas o dinheiro...
-
Tem nada, não falei já, teimosia?
Pão
dormido aquecido na frigideira. Café amargo em silêncio. Antes de sair:
-
Me faz um favor? Não me traga mais esses moleques da escola.
Mal
ouviu. Sua alma ria baixinho ao pensar que no embassamento da miopia ele bem
que podia ter enxergado a filha no rosto da mãe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário