O prédio em U urrava em silêncio as dores e os amores de tantos viventes que ali deixaram um pouco de si. As paredes cinzas tinham lá sua vida, mas uma vida corrompida, decaída, que permanecia presente meramente pela força do hábito. As salas-celas dispostas em circulo eram o próprio Panóptico espalhando sua vigilância para além das couraças e esquadrinhando a alma das pessoas.
Ao atravessar os portões, Patrícia que até então esperneara e falara palavrões abundantemente tentando escandalizar a mãe que permanecia irritantemente impávida, sentiu-se abater por uma calmaria gélida e imediatamente estancou como se um interruptor qualquer se desligasse em sua cabeça. Incomodada, mas incapaz de reagir, deixou-se arrastar pela mãe para dentro daquele prédio descomunal. Depois de um beijo formal, foi conduzida por uma mulher muito grande, vestido preto de tecido grosseiro. Da porta do quarto, arrastando sua mala de rodinhas, contou: uma, duas... seis camas. O quarto era enorme e frio, tinha um ar parado e um cheiro doce, enjoado. Imediatamente concluiu que era cheiro de flores pisadas. Queria e não conseguia gritar. Precisava reagir mas era como se as paredes cinzas a censurassem. Desejava correr para fora e não podia comandar seus pés. Pela primeira vez em sua vida realmente considerou a hipótese de ceder, acalmar a ventania e, brisa suave, ficar num canto a espiar.
Lentamente começou a desfazer as malas. Não sabia o que tinha dentro delas uma vez que haviam sido arrumadas por Soeli. Mas também não importava já que iria usar aquele horrível uniforme azul marinho praticamente todos os dias de agora em diante. Vencida mas inquieta, arrumou suas coisas nos armários lentamente tentando entender os gestos de sua mãe.
-Eu tenho uma novidade para você!
-Novidade? Eeee.. deixa disso mãe te conheço bem...
-Sério. Você foi aceita como interna no colégio Santa Tereza em Ribeirão Preto!
-Interna? Ah, mas não vou mesmo!
-Tenho um conhecido lá que é professor e ele conseguiu-lhe uma bolsa.
-E o que foi que a senhora deu para ele em troca?
-Novidade? Eeee.. deixa disso mãe te conheço bem...
-Sério. Você foi aceita como interna no colégio Santa Tereza em Ribeirão Preto!
-Interna? Ah, mas não vou mesmo!
-Tenho um conhecido lá que é professor e ele conseguiu-lhe uma bolsa.
-E o que foi que a senhora deu para ele em troca?
Foi a primeira vez que apanhou de sua mãe. E ainda assim compreendeu que não era o tapa que uma mãe dá em uma filha. Era uma mulher agredindo outra mulher.
(Éééé... parece promissor. Já foram 11 capítulos. Tomara que eu chegue ao final)
Em tempo! Alguém quer revisar?
Um comentário:
Eu quero.
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